A Cantina [II]

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Entro na cantina, abrindo a porta e procuro um canudo. Olho no balcão, onde deveria estar o atendente e acho um pote cheio de canudos. Pego um e me sento em uma das mesas, perto da porta. Boto o canudo do meu lado, enquanto furo a bolsa de sangue com a unha. Chupo a unha, pra limpá-la e pego o canudo, pondo o canudo no buraco. Em seguida começo a tomar o sangue de canudinho e em poucos momentos depois a ferida da canela já estava totalmente curada.

Quando um acaba, faço o mesmo no outro, furando e pondo o mesmo canudo. Até acabar as bolsas de sangue e então as jogo no lixo.

~~

Depois de um bom tempo, pego todas as bolsas de sangue e as jogo no lixo, junto com o canudinho. Saio da cantina e começo a caminhar pela escola, tentando achar algo interessante.

Apareço com a perna esquerda em minhas mãos e a deixo ao lado de uma máquina de suco. Desapareço em seguida.

Chego no lugar e percebo que tem alguém na máquina de lanches. Como eu não faço a mínima ideia de como cozinhar ou de como ser um humano, no geral, vou até lá.

- Ei... - Percebo que é a sereia que estava no navio, então coço meu cabelo de nervosismo - Uhh, não era pra você... estar devorando outra coisa?

Acabo seguindo o seu pedido, curvando-me levemente para baixo. Olhei para o salgadinho e depois para os dedos da sereia, cobertos de... alguma coisa.

- Não era melhor ter pego algum... talher? - Minha cabeça se desloca para o lado, enquanto tento analisar o lanche - Ou é assim mesmo que se come?

Tremi quando os lábios dela chegaram tão perto, e logo fechei os olhos. Quando notei que não estava sendo beijado, ela já estava sentindo o meu cheiro e sussurrando ao meu lado. Segurei em seus ombros e me empurrei um pouco para trás, então me sentei, levemente corado.

- Tentador... - Balanço minha cabeça, tentando me livrar de tal charme. Logo volto ao meu lado brincalhão. - Você é uma sereia ou uma vampira?

Dou um leve sorriso, tentando não demonstrar nervosismo. Que mulher estranha.

- Não sou um vampiro. Não hoje. - Observo a sereia enquanto ela... - Além de roubar os corações de marinheiros, você também é ladra no seu dia-a-dia? Essa é nova.

Dou outro sorriso irônico, então estendo a mão e pego a outra parte da barra. Observo-a bem, mas decido não come-la por enquanto. Vai que...

Percebo que ela engoliu seco. Dou um suspiro e a encaro nos olhos. Ela não é normal.

- Fique tranquila, pode pegar o que quiser na cozinha. - Como a minha parte em uma só mordida, sentindo pela primeira vez em décadas, talvez centenas de anos, o maravilhoso gosto do chocolate - Nossa, que perfeito. É isso que você geralmente come?

Um enorme sorriso aparece, enquanto estou de olhos fechados. Prefiro muito mais ficar em forma humana e experimentar diversos gostos diferentes, do que ficar bebendo sangue o tempo todo. Pode ser mais inseguro fisicamente, mas é muito mais difícil eu ficar insano... eu acho.

Desvio o olhar para os lados enquanto a sereia se movimenta, ainda avermelhado. Ela é estranha, mas não sei explicar como.

- Uma... - Confuso, foco o meu olhar no teto. Se eu estivesse como vampiro, eu já teria saído daqui há muito tempo. Em compensação... - Uma o quê?

Pelo menos ela fala de maneira engraçada.

- Ditado... - Digo, ainda com o olhar preso no teto. Balanço minha cabeça novamente e a observo, de volta ao normal - Ah, é. Um ditado. Claro.

Dou uma risada abafada pelo nervosismo. Meus olhos dão uma volta inteira, e param fitando a máquina de lanches.

- Então... - Eu já nem sei mais o que falar. Tô tentando analisa-la, mas é bem complicado. Ela não é uma "vou te levar para o fundo do mar e te devorar"...

- Livros? - Volto ao normal assim que escuto a pergunta, então meus olhos se viram de volta à Alicia - Uh. É. Sim, lá na minha sala tem um monte, eu acho.

Um livro aparece em minha mão esquerda: O Grande Gatsby. Dou um leve sorriso e o ofereço gentilmente.

- Eu tenho mais alguns lá, se você quiser. - Observo bem o livro, passando a mão por sua capa - Eu não uso, e eu não acho que os alunos daqui... bom, ninguém aqui usa.

Assim que a sereia aceita o presente, parte do sobretudo que cobria os seus seios "escapa" de sua posição, fazendo com que meus olhos se fixem nela. Assim que ela aperta o livro, porém, sua roupa volta a cobri-la decentemente.

- Eh. De nada. - Digo, ainda de olhos vidrados. Dou algumas piscadelas e minha visão volta ao normal - Você não possui mais... roupas?

Viro-me de lado, tentando esconder a minha própria vergonha, assim que noto que ela se acanhou. Será que percebeu?

— Se me der algumas, as usarei... Ainda que não esteja acostumada com isso.

Ela o encarou inocente quanto ao enrubescer alheio, ignorando o fato de estar tão vermelha quanto. Havia feito algo de errado? Ele estaria incomodado com o sobretudo? Mas gostava da peça...

- Eu não sei se você sabe muito sobre a vida fora do oceano... - Percebo que a sereia não era muito acostumada com o conceito de pudor, então vou um pouco para a frente e fecho o seu sobretudo. Dou dois tapinhas em seu ombro. - Mas nós geralmente nos cobrimos por aqui. Você não sente frio?

Consigo escutar o "K vampiro" dando risadas de mim, em minha cabeça. Pelo menos eu não tenho fetiche por loiras.