Sala do Diretor [II]

É.

-Ei ei ei! Quem você pensa que é pra me arrastar desse jeito?

Atordoada, disse, com a visão um pouco embaçada da batida. Passava a mão atrás da cabeça, no local da batida, aonde provavelmente iria ficar um galo com a força da batida, depois mais tarde. Ainda não havia entendido o que havia acontecido para ter sido arrastada e jogada daquele jeito na parede. Era improvável, mas, uma de suas teorias era de que tinha sido arrogante, e a estátua era a de um ente querido para o rapaz, mas, era a teoria menos possível, para ela.

-Tenho cara de vidente pra você, por acaso?

Só porque ele disse que era o diretor, iria agir pior com ele. Fazia questão absoluta de mostrar que ninguém era superior a ela, e isso implicava até mesmo no próprio diretor da escola. Limpou o rosto, e deu um olhar nada amigável para ele, mas que também não indicava ação hostil. A garota de fato não queria brigar, ainda mais com o diretor, mas, se fosse necessário, o faria.

-Puta é sua mãe, aquela mocréia.

Sem mais nem menos falou. Não ia deixar baixo. Seria ele quem se acalmaria, não ela. Sempre estava com a razão das coisas, e aquilo não era exceção. Ao sentir o puxão de cabelo, grunhiu, mas, continuou sem falar nada. Jurava que no momento que pudesse, iria arrancar um pedaço da perna daquele cara, fora.

-Não vou pra enfermaria coisa nenhuma. Se você tem algum problema comigo, é só dizer. Não precisa ficar me xingando. Achei que como diretor, ao menos teria a decência de ser honesto, mas parece que me enganei.

Disse, se levantando do chão e passando a mão nas roupas, limpando a poeira que havia no chão.

-E também, quanta poeira tem aqui, hein? Vocês não limpam não? Vocês vivem na sujeira, é isso?

-Ué, eu tô matriculada na escola. Por que você não vai me procurar na lista de alunos?

Aquela conversa já estava começando a ficar realmente cansativa. Urgh. Maldita tinha sido a hora em que disse aquilo. Realmente não estava pensando muito bem. Tudo aquilo podia ter sido muito bem evitado, se ela apenas tivesse ficado de boca fechada, mas, não adianta chorar pelo leite derramado. O que estava feito, estava feito.

Tentando engolir um pouco do próprio orgulho para acabar com aquilo logo, disse:

-Mordred. Sobrenome vocês procuram. Já posso sair daqui, de uma vez por todas?

Sem mais interesse nenhum naquela conversa, deu um passo para frente, encarando também os olhos do rapaz, sem demonstrar medo algum.

Engoliu em seco, e logo meio que as engrenagens se encaixaram. Era exatamente como tinha pensado. Se tivesse apenas engolido um pouco do próprio orgulho, talvez aquilo não tivesse acontecido, e se ter tanto orgulho assim a faria ficar como o diretor, então era melhor apenas ser uma pessoa humilde, mas, ela mesma estava bem ciente de que nunca viria a ser humilde. Por mais que tentasse, seria sempre, e nunca deixaria de ser, orgulhosa. Chame de lição de moral ou qualquer coisa do tipo, mas, o que o professor tinha dito, estava correto. Talvez era por isso que ele era professor, e não um aluno. Ele também tinha cara de mais velho, mas, os detalhes eram tantos, que ela começava a ficar só com dor de cabeça de pensar diferente sobre ele. Uma vez que o estereótipo estava feito, nunca mais sairia de sua cabeça, e o estereótipo que o homem possuía era o de alguém velho, e talvez, bem talvez, com um pouco de conhecimento dentro de si mesmo.

-Agora já posso sair, né? Me diz que posso.

Ao sentir o empurrãozinho, seu humor melhorou um pouco, e saindo da sala, lhe respondeu:

-Não preciso ir pra enfermaria. Foi só uma batidinha de nada. Só vou ficar com um galo mais tarde, mesmo. Não tem o por que de você se preocupar. Agora, se você me der licença, tô indo entrosar com alguém que não vá me bater ou me xingar.

Em seguida, virou-se para o fim do corredor, aonde provavelmente seria a saída de volta para o pátio. Sem hesitar, voltou a caminhar, normalmente.

-Já é a segunda vez que me seguram por aí hoje. Se você rasgar, vai me pagar um novo.

Disse, começando a ficar enfurecida ao ser puxada justo por aquele local. Tantos lugares para ser puxada por, e escolhiam justo aquele. Por que será, se perguntava.

-Não há o que prevenir, muito menos o que remediar. Acabei de dizer que eu já tô bem. Não tenta pagar de bonzinho comigo não.

-Preferir não prefiro, mas, se acontecer, o problema é meu, não seu. Que mal terá? Afinal, até eu consigo ver que você também já tá ficando tão estressado quanto eu.

Apesar de estar de costas, era bem notável a força da mão do homem. Normalmente, uma pessoa de bom humor não apertaria tão forte, mas sim, de um jeito gentil, diferente dele, que estava amassando o top que usava quase que completamente, apesar de ser uma roupa esportiva.

Logo em seguida, ouviu um estrondo, o qual tomou um susto com, tal susto que quase pulou do chão. De fato tinha sido muito aleatório, e nunca esperava que ele até mesmo fosse xingar tão alto assim. Aquele cara era realmente um diretor, ou era só um badernista?